sábado, 10 de outubro de 2009

Fábulas, Parte 03

E agora, a terceira da série, o easter egg referido no post anterior… E uma das minhas favoritas também =D

APATIA: A Tartaruga e seu Casco

Moral para os Iniciados: A preocupação o torna mais vulnerável a golpes poderosos, mas também dá uma razão para sua vida.

     Numa certa manhã, antes que clareasse, uma coruja velha e sábia descansava num canto perto da lagoa, pensando ser este um bom lugar para dormir durante o dia. Mais abaixo, ela percebeu que uma jovem tartaruga estava deitada no solo e coberta por folhas. Primeiro, a coruja pensou que a tartaruga estivesse dormindo, pois ela não se mexia nem um pouco. Mas então ela se perguntou por que a tartaruga não recolhia seus membros para a segurança do seu casco durante a noite.

     – Talvez a tartaruga esteja apenas descansando, – pensou a velha coruja. Então, alguns minutos mais tarde, – E se a tartaruga estiver doente? E se a tartaruga estiver morta? – A coruja não podia mais ignorar a tartaruga, e então voou até o chão ao lado dela.

     – Tartaruga, você está dormindo? – Perguntou a coruja.

     A tartaruga levantou lentamente a sua cabeça pra olhar a coruja. – Não, – ela respondeu.

     A coruja curvou-se para ver o rosto da tartaruga. – Você está doente?

     – Então, pelo amor de Deus, o que há de errado? – Perguntou a coruja.

     A tartaruga, indiferente, repousou a cabeça lentamente sobre o solo. – Por que você se preocuparia?

     – Porque sou sua vizinha. – A coruja bateu o pé. – O que há de errado?

     Olhando para a lagoa, que estava começando a congelar com o toque gelado do outono, a tartaruga respondeu, – Se você quer saber coruja, eu lhe direi. A cobra é uma inimiga poderosa, que matou toda a minha família e meus amigos. Eu sou a única tartaruga que resta nesta lagoa.

     A coruja ficou surpresa. – E por que você fica aí exposta para a cobra se ela é tão perigosa? – Ela perguntou.

     A tartaruga bufou. – Porque eu não me importo se ela me matar… Eu não tenho mais motivos pra viver.

     – Lógico que tem, – a coruja a encorajou. – Você precisa lutar para ajudar a lagoa, livrando-se da cobra. Você precisa se lembrar dos seus amigos e familiares que morreram.

     – Mas como eu farei isso se eu não quero mais viver? – Disse a tartaruga.

     A coruja pensou por um momento, e então respondeu: – Eu conheço uma maneira, mas você precisa confiar em mim.

     A tartaruga bocejou, – Faça o que quiser. Eu não ligo.

     A coruja disse, – Então eu preciso que você saia do seu casco.

     A tartaruga pestanejou. – Para fora do meu casco? Por quê?

     – Ah tartaruga, – disse a coruja – você se preocupa com o que acontecerá com o seu refúgio? Não se preocupe… Eu quero só carregá-la sobre a lagoa para que você possa ver onde a cobra está.

     A tartaruga considerou a proposta da coruja, e então emergiu lentamente do conforto de seu casco para o ar gélido da manhã. – É bom que encontremos a cobra, – avisou a tartaruga.

     – Não se preocupe, – disse a coruja velha e sábia – você vai encontrar o seu inimigo logo, logo… – Com isso, ela pegou a tartaruga com as suas garras e decolou. Lentamente, ela bateu as suas grandes asas brancas e levantou ambos acima das árvores e da lagoa. À medida que subiam, o sol nascia e o ar ficava mais quente.

     A tartaruga olhava para baixo, para a pequena lagoa e seu casco ainda menor, abandonado, muito longe de si, e repentinamente sentiu-se livre de um grande peso. – Coruja, – disse ela – como eu poderei agradecê-la?

     A coruja sábia respondeu: – Viva como uma coruja, sem uma casca, pois aí você irá permanecer forte, independente e livre dos seus fardos terrenos. Em segundo lugar, busque seus propósitos, pois neste caso você terá uma razão para permanecer deste jeito.

     A coruja desceu das alturas e e colocou a tartaruga de volta no chão. Ela perguntou: – Você encontrou seu inimigo?

     Então a tartaruga percebeu que a vista era tão bonita que ela se esquecera de procurar pela cobra. – Na verdade, – ela disse – a única coisa além da lagoa e das árvores que eu lembro ter visto foi o meu casco.

     – Então, – a coruja velha e sábia disse – você encontrou seu inimigo.

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