sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Contos Zen e Koans

     Fala aí pessoas, tudo bem? Estou experimentando uma coisa nova hoje, que é simplesmente sentar e escrever sobre alguma coisa que venha à mente… Tem um tempo que queria fazer isso, mas só agora sentei e cá estamos; Antes tarde do que nunca, não? xD

     Hoje queria falar sobre algo que eu acho legal, que é o Budismo, e as filosofias orientais em geral. Na realidade não sobre o Zen em si, pois acabaria me empolgando e escrevendo uma penca de coisa, o que acaba fugindo da definição do Zen – para variar, conceitos metafísicos são ariscos para serem emoldurados em definições :P Mas voltando ao que eu queria comentar, é sobre como os ensinamentos sobre o Zen são ensinados, que são através de duas ferramentas:

Contos Zen

     Esses são praticamente iguais aos de qualquer religião, com a diferença de que aqui temos a temática oriental exposta. Se você procurar algum conto, provavelmente achará que ele não tem sentido algum, ou que se esquiva de explicar exatamente o que é o zen, justamente pelo fato dele ser, em última instância, sem explicação (tá, eu sei disso :P)… Para não deixá-los completamente no vácuo, exemplifico isso com um conto, posto aqui na íntegra.

“O médico e o Zen (Autor desconhecido)

     Kenso Kusuda, diretor de um hospital em Nihonbashi, Tóquio, recebeu um dia a visita de um velho amigo, também médico, que não via há sete anos.

     - Como vai? – perguntou Kusuda.

     - Deixei a medicina… – respondeu o amigo.

     - Ah, sim?

     - Na verdade, agora eu pratico o Zen.

     - E o que é o Zen? – quis saber Kusuda.

     - É difícil explicar… –hesitou o amigo.

     - E como é possível entendê-lo, então?

     - Bem, deve-se praticá-lo.

     - E como faço isso?

     - Em Koishikawa, há uma sala de meditação dirigida pelo Mestre Nan-In. Se quiser experimentar, vá até lá.

     No dia seguinte Kusuda dirigiu-se à sala de meditação do Mestre Nan-In. Ao chegar, gritou:

     - Com licença!

     - Quem é? – responderam lá de dentro. Um velho de aspecto miserável, que se aquecia junto a um fogareiro próximo ao vestíbulo, dirigiu-se a ele. Kusuda entregou-lhe seu cartão e o velho, após dar uma olhada, disse sorrindo:

     - Olá! Faz tempo que o senhor não aparece!

     - Mas… é a primeira vez que venho aqui! – disse Kusuda, surpreso.

     - Ah, sim? É a primeira vez? Como está escrito ‘Diretor de Hospital’, pensei que fosse o Sasaki. O que o senhor deseja?

     - Quero falar com o Mestre Nan-in.

     - Já está falando com ele! – disse o velho, abrindo um largo sorriso.

     - Então o Mestre Nan-in é o senhor? – disse Kusuda meio desconfiado. - Esperava alguém mais ‘venerável’.

     - Eu mesmo. – respondeu o velho, sem dar mostras de resolver a mandar seu visitante entrar.

     Já meio desanimado e um tanto desdenhoso, Kusuda decidiu falar ali mesmo, de pé, no vestíbulo:

     - Eu gostaria que o senhor me ensinasse a praticar o Zen.

     O velho olhou para ele e disse:

     - Praticar o Zen? O senhor é um médico não? Deve então tratar bem de seus doentes e se esforçar para o bem de sua família, o Zen é isso. Agora, pode ir embora.

     Kusuda voltou para casa, sem entender nada. Intrigado com as palavras de Nan-In, três dias depois resolveu visitar novamente o velho Mestre. Nan-In atendeu-o novamente no Vestíbulo.

     - Novamente o senhor aqui? O que deseja?

     - Insisto para que o senhor me ensine a praticar o Zen! – disse Kusuda petulantemente.

     - Ora, nada tenho a acrescentar ao que já disse outro dia. Vá embora e seja um bom médico. – E fechou a porta.

     Dois ou três dias depois, Kusuda novamente voltou a ver o Mestre, pois absolutamente não conseguira entender suas palavras.

     - Outra vez aqui?

     - Eu vim porque não consegui entender suas palavras, por mais que pensasse sobre elas.

     - Pensando nas palavras é que o senhor não vai entender coisa nenhuma mesmo! – disse o velho monge.

     - Então o que eu devo fazer? – disse Kusuda, já quase desesperado.

     - Procure perceber por si, ora essa! Agora, vá embora.

     Mas Kusuda desta vez zangou-se muito e respondeu:

     - Por três vezes, embora tenha muitos afazeres, larguei tudo e vim até aqui pedir-lhe para me ensinar o Zen e sempre o senhor me manda embora sem me dar o mínimo esclarecimento! Que espécie de mestre é o senhor, afinal!?!

     - Ah! Finalmente zangou-se! – exclamou o Mestre.

     - Mas é evidente! – desabafou o médico.

     - Então agora chega de palavreado e seja educado! Faça-me uma saudação.

     Encarando fixamente o velho monge, Kusuda reprimiu sua vontade de dar-lhe um soco na cara e inclinou-se em reverência. O Mestre então o conduziu à sala de meditação e o ensinou a praticar zazen.

     Anos depois, Kusuda finalmente entendeu porque o Zen também é cuidar bem dos doentes e esforçar-se para o bem de sua família.”

 

Koan

     Estes são relativamente mais simples (e talvez mais sem sentido ainda). Basicamente, Koans são charadas, normalmente proferidas de um mestre para um discípulo, e cujo objetivo é forçar o discípulo a vislumbrar a essência do zen. Sem muita enrolação, um exemplo clássico de koan é o enigma a seguir:

“Qual o som da palma de uma mão só?”

Pois é, sem resposta lógica, não? E é exatamente aí que reside a força do koan, pois como os mestres comentam, é um enigma que não deve ser vencido por lógica pura, “deve vir de dentro”. Como já deu para imaginar, às vezes os dois aparecem acompanhados, o koan sendo um participante dentro do conto.

     Enfim, acho que é só. Quem quiser se aprofundar mais nisso pode, por exemplo, ler os livros de um camarada chamado Alan Watts, um grande divulgador da cultura zen no ocidente; o mais introdutório deles é o Espírito do Zen, curtinho, dá pra ler no banheiro xD Queria finalizar este com um conto, que eu acho muito foda =D

“O concreto imaginário (Autor desconhecido)

     Um monge perguntou a Chao-chou:

     ‘O que dirias se eu chegasse ante vós sem nada trazer?’

     Chao-chou respondeu:

     ‘Deixai-o aí mesmo, no chão’.

     O monge contestou:

     ‘Mas eu disse que nada trazia, como então poderia pôr algo no chão?’

     ‘Tudo bem então’, comentou Chao-chou, despreocupado, ‘nesse caso, levai-o daqui’.”

 

     See ya at the next savepoint,

Aurélio.

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