Fala aí pessoas, tudo bem? Estou experimentando uma coisa nova hoje, que é simplesmente sentar e escrever sobre alguma coisa que venha à mente… Tem um tempo que queria fazer isso, mas só agora sentei e cá estamos; Antes tarde do que nunca, não? xD
Hoje queria falar sobre algo que eu acho legal, que é o Budismo, e as filosofias orientais em geral. Na realidade não sobre o Zen em si, pois acabaria me empolgando e escrevendo uma penca de coisa, o que acaba fugindo da definição do Zen – para variar, conceitos metafísicos são ariscos para serem emoldurados em definições :P Mas voltando ao que eu queria comentar, é sobre como os ensinamentos sobre o Zen são ensinados, que são através de duas ferramentas:
Contos Zen
Esses são praticamente iguais aos de qualquer religião, com a diferença de que aqui temos a temática oriental exposta. Se você procurar algum conto, provavelmente achará que ele não tem sentido algum, ou que se esquiva de explicar exatamente o que é o zen, justamente pelo fato dele ser, em última instância, sem explicação (tá, eu sei disso :P)… Para não deixá-los completamente no vácuo, exemplifico isso com um conto, posto aqui na íntegra.
“O médico e o Zen (Autor desconhecido)
Kenso Kusuda, diretor de um hospital em Nihonbashi, Tóquio, recebeu um dia a visita de um velho amigo, também médico, que não via há sete anos.
- Como vai? – perguntou Kusuda.
- Deixei a medicina… – respondeu o amigo.
- Ah, sim?
- Na verdade, agora eu pratico o Zen.
- E o que é o Zen? – quis saber Kusuda.
- É difícil explicar… –hesitou o amigo.
- E como é possível entendê-lo, então?
- Bem, deve-se praticá-lo.
- E como faço isso?
- Em Koishikawa, há uma sala de meditação dirigida pelo Mestre Nan-In. Se quiser experimentar, vá até lá.
No dia seguinte Kusuda dirigiu-se à sala de meditação do Mestre Nan-In. Ao chegar, gritou:
- Com licença!
- Quem é? – responderam lá de dentro. Um velho de aspecto miserável, que se aquecia junto a um fogareiro próximo ao vestíbulo, dirigiu-se a ele. Kusuda entregou-lhe seu cartão e o velho, após dar uma olhada, disse sorrindo:
- Olá! Faz tempo que o senhor não aparece!
- Mas… é a primeira vez que venho aqui! – disse Kusuda, surpreso.
- Ah, sim? É a primeira vez? Como está escrito ‘Diretor de Hospital’, pensei que fosse o Sasaki. O que o senhor deseja?
- Quero falar com o Mestre Nan-in.
- Já está falando com ele! – disse o velho, abrindo um largo sorriso.
- Então o Mestre Nan-in é o senhor? – disse Kusuda meio desconfiado. - Esperava alguém mais ‘venerável’.
- Eu mesmo. – respondeu o velho, sem dar mostras de resolver a mandar seu visitante entrar.
Já meio desanimado e um tanto desdenhoso, Kusuda decidiu falar ali mesmo, de pé, no vestíbulo:
- Eu gostaria que o senhor me ensinasse a praticar o Zen.
O velho olhou para ele e disse:
- Praticar o Zen? O senhor é um médico não? Deve então tratar bem de seus doentes e se esforçar para o bem de sua família, o Zen é isso. Agora, pode ir embora.
Kusuda voltou para casa, sem entender nada. Intrigado com as palavras de Nan-In, três dias depois resolveu visitar novamente o velho Mestre. Nan-In atendeu-o novamente no Vestíbulo.
- Novamente o senhor aqui? O que deseja?
- Insisto para que o senhor me ensine a praticar o Zen! – disse Kusuda petulantemente.
- Ora, nada tenho a acrescentar ao que já disse outro dia. Vá embora e seja um bom médico. – E fechou a porta.
Dois ou três dias depois, Kusuda novamente voltou a ver o Mestre, pois absolutamente não conseguira entender suas palavras.
- Outra vez aqui?
- Eu vim porque não consegui entender suas palavras, por mais que pensasse sobre elas.
- Pensando nas palavras é que o senhor não vai entender coisa nenhuma mesmo! – disse o velho monge.
- Então o que eu devo fazer? – disse Kusuda, já quase desesperado.
- Procure perceber por si, ora essa! Agora, vá embora.
Mas Kusuda desta vez zangou-se muito e respondeu:
- Por três vezes, embora tenha muitos afazeres, larguei tudo e vim até aqui pedir-lhe para me ensinar o Zen e sempre o senhor me manda embora sem me dar o mínimo esclarecimento! Que espécie de mestre é o senhor, afinal!?!
- Ah! Finalmente zangou-se! – exclamou o Mestre.
- Mas é evidente! – desabafou o médico.
- Então agora chega de palavreado e seja educado! Faça-me uma saudação.
Encarando fixamente o velho monge, Kusuda reprimiu sua vontade de dar-lhe um soco na cara e inclinou-se em reverência. O Mestre então o conduziu à sala de meditação e o ensinou a praticar zazen.
Anos depois, Kusuda finalmente entendeu porque o Zen também é cuidar bem dos doentes e esforçar-se para o bem de sua família.”
Koan
Estes são relativamente mais simples (e talvez mais sem sentido ainda). Basicamente, Koans são charadas, normalmente proferidas de um mestre para um discípulo, e cujo objetivo é forçar o discípulo a vislumbrar a essência do zen. Sem muita enrolação, um exemplo clássico de koan é o enigma a seguir:
“Qual o som da palma de uma mão só?”
Pois é, sem resposta lógica, não? E é exatamente aí que reside a força do koan, pois como os mestres comentam, é um enigma que não deve ser vencido por lógica pura, “deve vir de dentro”. Como já deu para imaginar, às vezes os dois aparecem acompanhados, o koan sendo um participante dentro do conto.
Enfim, acho que é só. Quem quiser se aprofundar mais nisso pode, por exemplo, ler os livros de um camarada chamado Alan Watts, um grande divulgador da cultura zen no ocidente; o mais introdutório deles é o Espírito do Zen, curtinho, dá pra ler no banheiro xD Queria finalizar este com um conto, que eu acho muito foda =D
“O concreto imaginário (Autor desconhecido)
Um monge perguntou a Chao-chou:
‘O que dirias se eu chegasse ante vós sem nada trazer?’
Chao-chou respondeu:
‘Deixai-o aí mesmo, no chão’.
O monge contestou:
‘Mas eu disse que nada trazia, como então poderia pôr algo no chão?’
‘Tudo bem então’, comentou Chao-chou, despreocupado, ‘nesse caso, levai-o daqui’.”
See ya at the next savepoint,
Aurélio.