quarta-feira, 26 de junho de 2013

Apatia/Preguiça

“Mas você tem que ter horas imperfeitas para ter as perfeitas. Você tem que matar dez horas para que duas vivam. O que você tem que cuidar é para não matar TODAS as horas, TODOS os anos.” (Charles Bukowski)

     O cursor ficava piscando na tela a maior parte do tempo. Ele até saía da sua posição de descanso, mas só para voltar ao que era após ejetar algumas palavras a esmo. “Odeio o que escrevo, e ainda mais assim, não sai nada…” praguejou Carlos, ciente do prazo e do texto que tinha que escrever. Fora contratado para escrever um texto novo, sobre um tema que ele dominava, mas depois de uma série de desencontros com seu editor, colegas e até alguns amigos, se encontrava nesse vácuo criativo, sem mente para nada…

     “De onde vem essa apatia, onde está a inspiração?” Ele perguntava, tentando rastrear na sua cabeça onde exatamente tinha perdido a mão. O telefone deu um assobio, e viu nele um objeto de distração. “Droga!”, e com isso deteve a sua mão que já ia instintivamente ao retângulo negro, olhar que atualização tinha acontecido no mundo externo…

     Parando para pensar, começou a fazer um mapa mental, voltando no passado para tentar encontrar a raiz do problema. “Será o novo emprego?” se indaga, falando do emprego recente de jornalista que conseguiu. “Talvez não, pois ele é muito legal! Tá, eu tenho alguns problemas nele, e não faço as coisas como deveriam ser feitas, mas isso é mais com a minha preguiça que a natureza do trabalho em si…” Continuando o rastreio, pensou nos amigos, e até em sua noiva – ele é daquelas pessoas que pensam em todas as possibilidades -  que já está de casamento marcado. “Não, nem eles devem ser, particularmente Joana, que tem me confortado e me dado completo apoio nesse mar de tédio e marasmo que estamos navegando…”

     “Então onde está esta porcaria?!?!” começou a praguejar mentalmente, como que brigando consigo mesmo, incapaz de resolver um problema que soa simples demais. “Caralho, isso não pode continuar assim!” e continuou nesta até que, sabe-se lá o motivo, lembrou-se que não tomou café mais cedo, e tampouco não tinha lavado a louça do dia anterior. “Ah, mas isso agora?” E parece que tudo veio em um estalo: A roupa que está no varal, os emails que demora séculos para responder/enviar, a apresentação que precisa terminar para o fim de semana, e o maldito texto que precisa escrever! “Calma, calma….” respira fundo, enquanto pensa em como resolver o problema que acabou de delinear, e que agora está claro na cabeça: O texto precisa estar pronto, mas ele não se escreve sozinho. Lembrou da única coisa que deu certo neste processo, que foi a rigidez que fez com que ele escrevesse profusivamente a mais de um ano atrás, quando se encerrou no inferno astral que foi ter a vida virada de cabeça para baixo: Disciplina. Joana sempre fala disso, da comodidade dos hábitos, da calma de pensamento em ter rotina na vida, embora ele mesmo seja alheio a isso – como exemplifica bem um livro que ele leu, é acalmar o macaco que mora na sua cabeça – foi o que o salvou, e parece que vamos precisar disso mais uma vez. Então, com um sorriso no rosto, e com os ombros bem mais leves, ele pegou o avental, e foi lavar a louça.

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     Bem, quebrando um pouco as coisas, resolvi escrever o que veio na cabeça e, assim como Carlos, estou me sentindo melhor, veja só :P Não tenho uma louça para lavar, ao menos agora, mas vou tomar um banho e procurar meu caderninho, e ver se esqueço do maldito telefone, ô bichim maldito!

 

     See ya at the next savepoint,

Aurélio.